segunda-feira, 17 de março de 2008


A cor é a expressão de uma virtude escondida.
Certos pássaros são chamas.

Um jardineiro faz-me notar que é no Outono que vemos a verdadeira cor das árvores.
Na Primavera, a abundância de clorofila veste-as a todas com um libré verde.
Chegado Setembro, elas mostram-se cobertas das suas cores próprias, a bétula loira ou dourada, o bordo amarelo-laranja-vermelho, o carvalho cor de bronze e ferro.

As raízes enterradas no solo, os ramos protectores dos esquilos brincalhões, do ninho e da chilreada dos pássaros, a sombra dada aos animais e aos homens, a cabeça em pleno céu.
Haverá mais sábia e benéfica maneira de existir?
O teu corpo composto-três quartos de água, mais um punhado de minerais terrestres. É essa grande chama em ti de que desconheces a natureza.

E nos teus pulmões, sorvido e libertado sem cessar no teu tórax, o ar, esse belo estrangeiro sem quem não podes viver.

Marguerite Yourcenar
( Escrito num jardim - O Tempo Esse Grande Escultor)


sexta-feira, 14 de março de 2008


"Ouve-me.
Ouve o meu silêncio.
O que falo nunca é o que falo
E sim outra coisa.
Capta essa outra coisa de que na verdade falo,
Porque eu mesma não posso.
Lê a energia que está no meu silêncio."

- Clarice Lispector -


sábado, 8 de março de 2008



"'Cuida-te quando fazes chorar uma mulher,
Pois Deus conta as suas lágrimas.
A mulher foi feita da costela do homem,
Não dos pés para ser pisada
Nem da cabeça para ser superior,
Mas sim do lado para ser igual,
Debaixo do braço para ser protegida e
Do lado do coração para ser amada'."

__________________Talmud


segunda-feira, 3 de março de 2008



Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado
e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros
e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos
estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que,
esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

_____________________Carlos Drumond de Andrade




sábado, 1 de março de 2008


Quando as tempestades da vida
Surgem escuras à minha frente,
Me recordo de maravilhosas palavras
Que uma vez eu li.

E digo a mim mesmo:
Quando pairarem nuvens
ameaçadoras,
Não dobre suas asas
E não fuja para o abrigo.

Mas, faça como a águia,
Abra largamente as suas asas
E decole para bem alto,
Acima dos problemas que a vida traz.

Pois a águia sabe
Que quanto mais alto voar,
Mais tranqüilos e mais brilhantes
Tornam-se os céus.

E não há nada na vida
Que Deus nos peça para carregar
Que nós não possamos levar planando
Com as asas da oração.

E ao olhar para trás
Verá que a tempestade passou,
Você encontrará novas forças
E ganhará coragem também.

- Helen Steiner Rice -
[Nebulosa Águia]