"Nossas dúvidas são traidoras
E nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar
Se não fosse o medo de tentar."
____________William Shakespeare
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles - Serenata
[A lunar voice]
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
- Cecília Meireles -
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é uma linha sub-reptícia.Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo e aquilo que ouvimos e chamamos silêncio.
Clarice Lispector
"Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé no marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
( Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."
__________________Miguel Torga
domingo, 10 de fevereiro de 2008
" Aspiro ao supremo prazer de desaparecer,
Não por meio de um suicídio, coisa peganhenta e trivial,
Mas por meio da literatura,
A única arte que permite o grau superior do anonimato
No qual o criador se confunde com as criaturas criadas
E assim se multiplica diante do tempo dilatado
Até se tornar eternidade. "
- Charles Baudelaire -
sábado, 9 de fevereiro de 2008
O Caranguejo *
Ele diz não com a cabeça
mas diz sim com o coração.
Ele diz sim só ao que ama
mas diz não ao professor.
Está de pé e o interrrogam
mas são problemas demais.
Morre de rir - de repente -
e apaga tudo o mais:
os algarismos e os nomes
as datas e as palavras
e as frases de emboscada.
O professor o ameaça
sob a vaia dos meninos
( os geniozinhos da classe)
mas ele, ele trabalha:
com giz de todas as cores
no quadro-negro das dores
desenha o rosto da felicidade.
* Le cancre: o caranguejo, em linguagem familiar,
designa também o menino preguiçoso ou vadio.
__________________Jacques Prévert
Nebulosa do Caranguejo
Toda mulher
Tem no seu íntimo uma magia própria
De fazer acontecer
De dar um jeito
De dar o peito
Dar um colo
Fazer bem feito.
Toda mulher traz na alma a força dos ventos
O fascínio de um cavalo selvagem
A sensibilidade de uma flor
Que sente, pressente, intui
Se abre no momento certo
E exala seu perfume.
Ela galopa contra o vento
Enfrenta tormentas
Carrega consigo suas mágoas
E as dissipa no ar.
Tem a alma leve
Apaixonada
Não abandona o que acredita por nada.
Tem medo, Tem asas
Preza sua liberdade
Divide com aquele que acredita
Sua vida, seus sonhos, seu amor e sua alma.
- Carolina Salcides -
"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero."
______________________ Álvaro de Campos